Big Techs em crise e o desencanto dos trabalhadores de tecnologia em meio a demissões e incertezas
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Big Techs em crise e o desencanto dos trabalhadores de tecnologia em meio a demissões e incertezas

Por muitos anos, as chamadas “Big Techs” — gigantes da tecnologia como Google, Meta, Amazon e Microsoft — foram vistas como o destino ideal para profissionais ambiciosos em busca de inovação, salários altos e benefícios invejáveis. No entanto, essa imagem de estabilidade e crescimento contínuo está desmoronando. Demissões em massa, cortes de benefícios e uma desaceleração geral no setor levaram muitos trabalhadores a reavaliar suas carreiras e a buscar oportunidades fora desse universo que, por muito tempo, simbolizou o auge da indústria tecnológica.

Michael, um engenheiro de software, começou sua jornada em uma dessas gigantes da tecnologia em 2021 com grandes expectativas. “Queria provar meu valor ao lado dos melhores engenheiros de software do mundo”, conta. O ambiente era exatamente o que ele esperava: projetos desafiadores, benefícios excepcionais e uma cultura de trabalho que o fazia sentir-se parte de algo importante. “Era uma big tech típica, com alimentação gratuita, academia e benefícios de bem-estar. Era como trabalhar em um local que aumentava meu valor como profissional”, reflete.

Contudo, em março de 2022, os primeiros sinais de mudança começaram a aparecer. Pequenos cortes nos benefícios — como a retirada do serviço de lavanderia e ajustes nos horários dos jantares — deram lugar a medidas mais severas. Até o fim daquele ano, a onda de demissões havia chegado com força total. Michael foi um dos 11 mil funcionários demitidos de sua empresa.

Em vez de tentar voltar ao setor, decidiu mudar radicalmente de carreira, ingressando em um grande banco de investimento, onde encontrou maior segurança e estabilidade. O declínio no setor de tecnologia, especialmente nas Big Techs, não foi um fenômeno isolado. Desde o verão de 2022, cortes de empregos e incertezas financeiras assombram empresas que antes lideravam o crescimento global. De acordo com dados do site Layoffs.fyi, que monitora demissões no setor, apenas em janeiro de 2024, mais de 23 mil trabalhadores foram dispensados de empresas como Microsoft, Amazon, eBay e Google.

A crise não dá sinais de que terminará tão cedo, com muitas empresas ainda hesitando em retomar contratações em grande escala. As Big Techs, que antes eram conhecidas por oferecer salários atraentes, escritórios luxuosos e benefícios diferenciados — como alimentação gratuita, academias internas e ambientes recreativos —, hoje lidam com uma realidade diferente. A alta inflação, o aumento das taxas de juros e uma superestimativa da demanda por tecnologia durante a pandemia resultaram em demissões e cortes abruptos. Scott Dobroski, especialista em tendências de carreira da Indeed, observa que o setor de tecnologia perdeu muito de seu prestígio. “Os candidatos a emprego querem se unir a empresas que estão prosperando. Quando as demissões são anunciadas, isso não só reduz as oportunidades de carreira, como também prejudica a reputação dos empregadores”, afirma.

E os números confirmam essa tendência. No índice de Melhores Empregos da Indeed para 2024, apenas três das 25 melhores posições estão no setor de tecnologia — um declínio acentuado em comparação com os 11 cargos tecnológicos da lista de 2023.

O desencanto com o setor não afeta apenas aqueles que buscam emprego, mas também quem ainda está empregado nas grandes empresas de tecnologia. Alessandra, funcionária de uma empresa de tecnologia em Londres, reflete sobre como as demissões e cortes de benefícios mudaram sua perspectiva. “Quando comecei, era impressionante. Parecia que eu estava no coração da inovação, fazendo parte de algo maior”, lembra. Mas essa empolgação logo se dissipou, especialmente após uma série de cortes na empresa. “Hoje, alterno entre dias extremamente ocupados e momentos de completo tédio”, lamenta. Além disso, o trabalho remoto, que havia se tornado uma norma durante a pandemia, também está sendo restringido.

As empresas têm exigido que seus funcionários voltem ao escritório, o que tem causado descontentamento em muitos profissionais que se acostumaram à flexibilidade. “Antes, eu achava que trabalharia em uma Big Tech para sempre. Agora, sinto que o setor perdeu seu encanto”, diz Alessandra, que, como muitos outros, está planejando uma mudança de carreira. A inteligência artificial (IA) tem sido um dos poucos segmentos que ainda atrai talentos dentro do setor tecnológico. Com o rápido crescimento de tecnologias como o ChatGPT e outros modelos de IA, algumas áreas continuam em expansão, mantendo o setor vivo para determinados profissionais especializados. No entanto, a maioria dos trabalhadores não está envolvida diretamente com essas inovações, o que aumenta a sensação de estagnação.

Dobroski acredita que o setor de tecnologia ainda pode se recuperar, mas que isso dependerá de uma retomada econômica significativa. “Quando as demissões terminarem e as empresas voltarem a contratar em massa, o setor voltará a ser atraente para muitos profissionais”, prevê.

No entanto, até lá, apenas áreas específicas, como a inteligência artificial, continuarão a oferecer oportunidades verdadeiramente atraentes. Michael, que mudou de carreira após ser demitido, concorda que o setor pode voltar aos seus dias de glória, mas com algumas ressalvas. “Os benefícios e os projetos de grande impacto são irresistíveis. Um dia, voltaremos a 2021, quando tudo parecia promissor”, diz. Mesmo assim, ele reconhece que, por enquanto, muitos talentos estão deixando o setor em busca de novas oportunidades.

Enquanto a economia global não se estabilizar, o futuro das Big Techs permanece incerto. O brilho que um dia tornava essas empresas os melhores lugares para se trabalhar está ofuscado por demissões e cortes. Para muitos trabalhadores, o momento agora é de buscar segurança fora do setor. Resta saber se a indústria da tecnologia conseguirá se reinventar e atrair de volta os talentos que fizeram sua história.

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