Há 15 anos, os algoritmos começaram a moldar a forma como interagimos nas redes sociais, revolucionando a experiência digital. Com a introdução dos feeds de notícias personalizados no Facebook, em 2009, os algoritmos passaram a direcionar o conteúdo que vemos, definindo não apenas o que é relevante, mas o que gera mais engajamento.
Hoje, os algoritmos estão no centro do debate sobre a liberdade de expressão e os impactos que eles têm sobre o discurso público. Os governos ao redor do mundo vêm tentando lidar com as consequências dessa transformação. Em 2023, o Brasil se destacou ao suspender temporariamente a plataforma X (antigo Twitter), uma decisão liderada pelo Supremo Tribunal Federal.
A medida visava barrar contas que espalhavam desinformação eleitoral e pressionar a empresa a estabelecer representação legal no país. Na União Europeia, novas regras foram introduzidas para penalizar gigantes da tecnologia que permitam o uso de suas plataformas para interferência em eleições, com multas que podem alcançar 6% do faturamento anual. No Reino Unido, uma nova legislação de segurança online exige maior moderação de conteúdo nas plataformas.
Essas intervenções, porém, suscitam um debate sobre a tensão entre controle e liberdade. Para alguns críticos, os esforços para moderar conteúdo em redes sociais se assemelham a formas de censura. Adam Candeub, ex-conselheiro de Donald Trump, afirmou à BBC que a tentativa de regular esses espaços digitais pode transformar as redes em instrumentos de controle social, algo que considera “horrível”. Ele defende que, a menos que haja uma ameaça imediata, o ideal seria deixar o “mercado de ideias” prevalecer, permitindo que os diferentes pontos de vista coexistam e competam livremente.
Entretanto, essa visão ignora um ponto crucial: o papel dos algoritmos na amplificação ou supressão de determinadas vozes. A advogada Asha Rangappa, professora da Universidade de Yale, alerta que a ausência de restrições de conteúdo em plataformas online pode prejudicar o debate democrático. Ao contrário da tradicional praça pública, onde todos podem ser ouvidos, nas redes sociais o que chega ao usuário é filtrado pelos algoritmos. Isso distorce o valor de uma ideia, que não é avaliada por seu mérito, mas por sua capacidade de gerar engajamento.
Os algoritmos, como os do Facebook, que priorizam postagens polêmicas, alimentam uma percepção distorcida do público. Em vez de promover um debate amplo e saudável, eles acabam amplificando as divisões políticas e sociais, criando câmaras de eco que fortalecem opiniões extremas e abafam as vozes moderadas. Theo Bertram, ex-vice-presidente de políticas públicas do TikTok, destacou que, embora os algoritmos não bloqueiem conteúdos, eles determinam o que ganha visibilidade.
O efeito disso é que os debates na esfera pública acabam sendo controlados pelas diretrizes estabelecidas por essas plataformas. Além disso, a concentração de poder nas mãos das grandes corporações tecnológicas é um motivo de preocupação. Jack Balkin, da Universidade de Yale, argumenta que a Primeira Emenda dos Estados Unidos, que protege a liberdade de expressão, é insuficiente para lidar com os desafios impostos pelos algoritmos. Segundo ele, as plataformas de redes sociais se tornaram mediadoras ativas do discurso público, exercendo uma influência que antes era reservada aos Estados-nação. Isso cria a necessidade de uma nova legislação que reflita a realidade atual.
Alguns especialistas propõem soluções para esse problema. Francis Fukuyama, renomado cientista político, sugeriu a criação de um “middleware”, um software intermediário que permitiria aos usuários controlar o que veem nas redes sociais. Esse sistema daria maior liberdade para personalizar o conteúdo de acordo com as preferências individuais, devolvendo ao usuário o poder de decidir o que consumirá, sem a interferência direta dos algoritmos das plataformas.
Embora essa ideia ainda esteja em fase de discussão, há sinais de que o comportamento dos usuários também está mudando. De acordo com uma pesquisa da Gartner, apenas 28% dos americanos ainda gostam de documentar suas vidas publicamente online, uma queda significativa em relação aos 40% em 2020. As pessoas estão preferindo interações em grupos fechados, longe da visibilidade dos algoritmos, em ambientes onde há maior controle e responsabilidade. As empresas também têm acompanhado essa tendência: o número de fotos compartilhadas em mensagens diretas no Instagram, por exemplo, já supera o das postadas em perfis públicos.
Apesar dessas mudanças, o debate sobre o papel dos algoritmos nas redes sociais está longe de terminar. Se por um lado eles trouxeram maior diversidade e facilitaram a descoberta de novos conteúdos, por outro, questiona-se até que ponto esses mecanismos interferem na liberdade de expressão. Com cada vez mais pessoas buscando formas de interagir em espaços mais privados, pode-se perguntar se o futuro das redes sociais estará nas mãos das grandes empresas ou se os usuários terão mais controle sobre suas próprias experiências digitais
Afinal, o que estamos vendo é uma tentativa de equilibrar a balança entre liberdade de expressão e regulação. Assim como John Perry Barlow, em 1996, pediu aos governos que deixassem o ciberespaço em paz, hoje, os usuários podem estar enviando uma mensagem semelhante aos algoritmos: não nos manipulem.